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terça-feira, 10 de setembro de 2013

And I told you to be balanced, and I told you to be kind

  Não há sinais de saída dessa bolha que não é minha. Não há rostos, não há fortalezas, não há lugares para correr quando tudo que se quer é correr. Minha língua materna vai perdendo sua conexão com a realidade e a palavra lar parece não existir no idioma desse mundo inglês/hispano hablante.
  Tudo parece tão, tão errado. Não há nada meu aqui. Não existe nada que eu possa me assegurar que é de minha posse. Não há o meu lugar, o meu quarto, a minha pessoa, o meu caderno, nem mesmo meu refrigerante. Nem tenho certeza se eu estou aqui, mesmo sabendo que tambem não estou e nem quero estar no Brasil; me perdi. Perdi tudo que tinha como certo e muito pouco me sobrou.
  Quero correr, quero gritar, quero beber - quero poder respirar novamente. Pertenco à um lugar que não me pertence e onde nada nem ninguem pertence a mim. Besta sou eu de acreditar que o mundo é muito diferente que isso aqui...
  Talvez a solução fosse apagar tudo que sequer comece com ca e Br. Apagar tudo que era e não é mais. Talvez a solução seja não ter solução e só deixar ser problema - muitas vezes o que era solução vira mesmo problema, o problema começa a ser a gente, que não deixa ser.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Mona, Max, Marcela - e mais

  Sentada do lado de fora do social center durante a festa de aniversario de Hannah (Bolivia) e me sentido incompreendida em meio a tanta gente, desci todo o caminho pelo campus até Montezuma para pegar meu diário e partir para Cahuita. Bati no vidro do quarto número #7, meu favorito, adentrando no pequeno ambiente confortável e lilás onde moravam Alisson (Canadá), Camila (Costa Rica) e Mona (Alemanha). Mona escrevia em seu diário dourado, empoleirada em sua cama , a escrivanhinha ao seu lado contendo não livros mas sim mudas de plantas sem vasos. Deitei em seu colo e despejei a confusão desarmonica que eu era. Ela riu, chorou e acolheu-me, suas frases variando de "eu entendo completamente" à "você é tão idiota". Disse que adorava o estranho fato de nos conhecermos a tão pouco tempo e não precisarmos estar juntas a todo instante para nos sentirmos amigas. Conversamos sobre as cores das nossas almas e dreadlocks quando o mais estranho sentimento me atingiu; "eu te adoro e estou adorando essa conversa", disse à ela, "mas sinto que deveria estar em outro lugar, como se o destino ou o acaso estivessem me chamando. Ela riu e disse-me para conta-la no dia seguinte onde o destino havia me levado.
  Depois de uma volta pela area resedencial, me vi de volta em Cahuita, dessa vez no número #2. La estavam Max (Alasca) e Eleanor (Holanda). Andei de um lado para o outro naquele pequeno quarto escuro advinhava o que eu falaria a seguinte, rindo do meu sotaque e do que dizia com ele. Saí de la sentindo-me contente por aquelas duas pessoas especiais. Max ainda disse "não fique triste, não gosto de te ver triste" enquanto eu fechava a porta.
  Com o peito cheio e o olhos transbordando, fui até Flamingo. Não tive que subir até seu quarto, encontrando Marcela (Brasil) sentada no sofá. Despediu-se de um amigo e abraçou-me caminhando à lugar nenhum. O vento era frio por volta da meia-noite enquanto abria meu coração para minha segundo ano e  dos nossos problemas adolescentes. Clicou. Caminhamos de volta a Flamingo onde reclamamos de torneiras que pingam e pessoas que não clicam.
  Em meu caminho de volta a Cahuita, senti-me leve. Há exatamente dez dias aqui, amo esse lugar. Por algumas vezes, não quis aqui estar, mas muito menos pertenco ao Brasil. Tampouco a pertencer. Entrei em meu quarto correndo de uma barata enquanto Alice (Irlanda), Valeria (Espanha) e Vilde (Noruega) rindo de minha entrada. Poucos minutos de conversa à luz amarela do abajur do nossos quarto terminaram com Alice nos dizendo o quão estranho é ela nos amar tanto.
  Depois de poucos minutos deitada conversando com Vilde, ela adormeceu. Foi ai que desci para meu lugar favorito para madrugadas: o sofá vermelho de Cahuita, de onde escrevo.