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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Notação Polonesa inversa

  Acordei de bom humor, mas o mundo parecia não me querer no dia de hoje. Entrei em artes, meu primeiro e único bloco animada e sai com imensa frustração. Queria matar JuanPa e fazer uma peça com seus restos. Até o chiclete que Alison (UK) mascava de boca aberta me encomodou. As classes eram muito quentes e as apresentações de TOK dos segundos anos pouco conclusivas. Novamente me estressei com Margot (Holanda) sem muito motivo além do fato de ela tentar me dizer o que fazer (ou talvez que ela ainda não tenha entendido que não é assim que eu funciono).Jay não me permitiu trocar o meu CAS de serviço e os cachorros correram até os portões do inferno e eu e Juliette (França) corremos por Santa Ana atrás deles. As três da tarde eu me encontrava com calor, sede e fedendo à cachorro (literalmente).
  Saímos eu e ele para um café. Quando voltei ao meu quarto, Alice (Irlanda) havia sido convidada a algum tipo de organização estranha porém bem da gran fina. Comemoramos com pizza à luzes de vela, Cahuita #5 completo com Alice, Vilde (Noruega), Valeria (Espanha), Pietro (Brasi) e Papa Johns.
  Depois de um skype com a minha mãe e me sentir sick - ambos homesick e doente propriamente dito, fui ao #1 de Montezuma. Sentei-me no chão no banheiro e conversamos, sobre qualquer bobeira e asma. Sugeriu que fossemos dar uma volta pelo campus, e assim o fizemos lá pelas onze e meia da noite. Esbarramos em Ingvild e Vilde (Noruega x2) e fizeram piadas de como deveriamos andar de mãos dadas. Me senti estranha. De volta ao #1, Pietro dormia. Fui ao seu quarto para aliviar meus problemas e sai com uma razoável porção extra. Um copo prestes a transbordar.
Max:' Hey Jay, você sabe onde eu posso encontrar uma calculadora de notação polonesa inversa?'
Jay: 'eu não faço ideia do que isso seja', disse Jay enquanto procurava no google, 'olha só que enrgaçado Vitória, parece um pouco como você', respondeu antes de ler uma breve definição em voz alta: "Notação polonesa inversa é a notação matemática em que cada operados segue todos os seus operandos"
Quem diria que um dia eu me reconheceria em uma notação matemática...

"a notação polonesa reversa (RPN) apresenta as seguintes vantagens:
  1. Reduz o número de passos lógicos para se perfazerem operações binárias e, posto que as demais operações são ou binárias puras compostas, ou binárias compostas com unitárias ou apenas unitárias, o número total de passos lógicos necessários a um determinado cômputo será sempre menor que aquele que utiliza a sintaxe convencional (lógica algébrica direta);
  2. Trabalha com pares ordenados a priori, somente definindo a lei de composição binária aplicável após a eleição e a introdução do desejado par no cenário de cálculo. Até o momento final, se poderá decidir pela troca ou pela permanência da operação original.
  3. Minimiza os erros de computação, automática ou manual assistida;
  4. Maximiza a velocidade operacional na solução de problemas."

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Frango frito, café irlandês e cigarros

  Caminhavamos Clara (Chile/Holanda), Fabiha (Zambia) e eu em busca de velas e uma pequena aventura em uma tarde livre. Entre Don Quijote, a loja de doces e a sorveteria, nos sentamos em frente a igreja e conversamos pela tarde inteira, o sol esquentando minha pele o vento a refrescando ao mesmo tempo. Uma tarde normal, de tomar sorvete e conversar três horas inteiras sobre coisas triviais. Me senti como alguém da minha idade novamente, sem nenhum estresse de colégio depois de que batesse o sinal como acontecia no Brasil. Uma pessoa normal, de dezesseis anos, que aproveita do prazer de jogar uma tarde inteira fora em troca de uma simples conversa. Fabiha e eu sopravamos bolhas de sabão enquanto Clara tomava um sorvete.
  Voltamos para o colégio, tempo para trocar de roupa, buscar Eleanor (Holanda) e Pietro (Brasil) e sair novamente. Fomos ao Pollos Male, comer frango frito e batatas e jogar mais conversa fora. Eleanor e Pietro voltaram mais cedo porque tinha ensaio para o musical, enquanto nós três nos quedamos comendo (mais) frango e falando do futuro; de sermos segundos anos, de novos primeiros anos, de sleepovers em upstairs Cahuita. Nunca mencionei uma das minhas coisas favoritas por aqui: upstairs Cahuita. Me encanta a concentração de pessoas entre o #5 e o #6 (Clara, Amiya, Krysia e Alison por consideração), com todas suas moradoras e outras migrantes. As portas de ambos os quartos abertas, de frente uma pra outra, quase que um quarto só.
  Caminhavamos pelo frio andava fazendo em Santa Ana durante a noite, uma pausa para comprar cigarros e café irlandês. Nos sentamos na Green House, de onde roubamos uma bean bag para Cahuita que, essa semana, ganhou nova decoração. Cortinas, almofadas, mesas e Cahuita tem mais cara de casa que nunca.
  Um post nada importante, nada representativo, poético ou memorável - apenas um dia imensamente agradável.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Acostumbrarse

  Minha noite começou com vinho, New Girl e Alison (UK) em meu quarto.
  1: Festa afrocaribenha, Alice (Irlanda) esfregou tinta vermelha em meu rosto, e logo eu estava em Montezuma #1. O que aconteceu no meio tempo realmente não importa. Caminhavamos de volta à festa, e esfreguei tinta vermelha em seu rosto também.
 
  2: "Por que você não gosta de mim?"
      "Eu não gostava de você. Agora eu gosto. Até deixei um bilhete na sua porta para o dia dos namorados."
      "Aquilo foi você?"
    Sorriu, me abraçou, dançamos.
      "A gente deveria sair"
      "Agora?"
      "Sim!"
    Pegou minha mão e correu. Correu atrás de uma permissão que na verdade era uma folha; não saímos enfim. Me disse que queria voltar para o seu quarto e eu disse que o acompanhava.
      Me fez várias perguntas.
      "Por que você não gostava de mim?"
      "Porque você magoou alguem que eu amo. É bem justo, na verdade. E você fez isso por alguem que você ama tambem"
      " Nós nem somos mais amigos. Eu não gosto dela. Vocês são amigas?"
      "O que eu acho é que eu fui amiga dela mas ela nunca foi minha"
      Me disse que eu era muito legal e me agradeceu por caminhar com ele.
      Eu descia as escadas quando vi a porta de Tortuguero #1 se fechar.

      Entrei no meu quarto depois de caminhar sozinha do Amigos. Clara (Chile) bateu na porta e apontou um pacote dos meus biscoitos favoritos que alguem havia deixado para mim. Alegrou minha noite. Deitou-se ao meu lado e conversamos até Vilde (Noruega) entrar no quarto, e depois Amiya (India) e Alison (UK). Sairam todas depois de um tempo, e Vilde e eu começamos uma empreitada em matar uma aranha. A aranha sobrevive, mas fora do nosso quarto.

    3: e três da manhã. Me mandou uma mensagem dizendo que tinha vodka e não queria dormir sozinho. Voltei a Montezuma, mas dessa vez não ao #1. Conversamos no escuro, bebemos uma vodka Nicolai que queimou meus orgãos internos. Pensei em Nicolaj (Alemanha), que disse que acreditava que eu era o tipo de pessoa que ia encontrar o amor da minha vida enquanto nos sentavamos no corredor de Cabo Blanco no da dos namorados. Não dormi em Montezuma nessa noite.
 
    De volta a Cahuita, cobri as janelas, coisa que Valeria (Espanha/Moldova) parecia odiar fazer. Resolvi dormir sem roupa naquela noite. Acordei com ele aos pés da minha cama, um buquê de flores nas mãos.

Acostumbrarse: tener el habito; habituar a alguien o algo nuevo; suceder usualmente.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

50/50

  Caminhavamos de volta do almoço juntos - haviamos almoçado com Margot, uma ótima combinação de pessoas. Me lembro de me mostrar a língua depois de uma piada que fiz com sua faca de bolso, a coisa mais adorável do mundo. Entrei em seu quarto e reclamei um pouco da vida. "Bom", ele respondeu "eu acho que você deve deixar ele para lá e sair comigo no dia dos namorados e se divertir". Não respondi, fiz uma piada.
  Voltei mais cedo do amigos, um pacote de oreos que não havia comido no bolso - parte por culpa depois dos outros três que já havia comido, parte por uma desculpa esparrafada de procurar-lo. Mais cedo, na cafeteria, perguntei, como quem não queria nada, o que ia fazer durante a noite, mesmo sabendo que se não estava saindo com ele a culpa era inteiramente minha. Me disse que sairia com outra. Me senti traída na minha própria traição. Passei reto por Cahuita - é bom o sentimento de que sempre vai haver alguém em Montezuma #1. O encontrei no banheiro e depois fomos ao seu quarto, à luz de lanternas.
  "Eu tenho um par de velas aqui, talvez algum dia a gente devesse ir conversar lá fora a luz de velas ou alguma coisa do tipo", e de novo fiz alguma piada sem nenhuma profunda graça. Disse que ia dormir e ele respondeu, de um jeito engraçado, que se fosse por ele eu ficava para sempre.
  Sai do quarto com a imagem dele deitado na cama, nós dois rindo do seu "chisme of the day".

  "You know, fifty per cent of what I say is a joke, the other fifty is actually true".

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

...e uma continuação: ainda sobre o fim, ainda em Cahuita #5

  'Eu pensei que minha vida era o Brasil. Agora carrego a minha vida por ai em uma mala de tempo em tempo, mas se eu perder a mala também está tudo bem. Pensei que nesse quarto estava minha vida, mas a verdade é que ano que vem vai ser só.. um quarto. O que é a minha vida, afinal?'
    'Vitoria, eu comparo meu relacionamento com você com o meu relacionamento com a minha colega de quarto do ano passado. E, sabe, depois disso você nunca vai se sentir inteira de novo. Sempre vai ter alguma coisa faltando, um pedaço de você perdido no mundo. E pra mim tudo bem, porque eu sei que minha colega de quarto esta em algum lugar desse mundo, just being. Há uma certa beleza em só ser/estar. Tiveram dias que eu chorei, lágrimas de dor, de não ter ela comigo. Mas se você ama alguem de verdade, sempre vai amar, e eu sempre vou te amar e estar feliz por você estar por ai just being'

'Sabe de uma coisa', eu disse entrando no quarto que não poderia ser mais meu, 'nenhum dos meus amigos nunca fez intercâmbio, minha mãe nunca viajou, nunca alguem que eu conhecia morreu. Essa, então, é a primeira vez que eu vou perder alguem. E não é como se você fosse fade away com o tempo, a gente organicamente parasse de se falar; um dia, você só vai pegar suas coisas e ir embora. É uma perda consciênte e consentiva'.

O que é minha vida, afinal?

Em Cahuita #5:

  Alice entra no quarto casualmente e me pergunta como foi meu dia. Respondo algo curto e vago e pergunto de volta, ela me responde que o melhor da sua vida porque foi aceita em sua universidade dos sonhos. Levantei da minha cama emocionada e corri com meu pé torcido até ela.
  Não falta muito tempo para o final do ano. Tenho que me conformar que não existem infinitas noites de Alice e Valeria escrevendo juntas em seus diários na luz baixa de Cahuita #5 e que ano que vem nem Cahuita #5 vai ser meu. Não haverão mais flores mortas que Alice havia presenteado Valeria com a semanas atrás e nem noites de guacamole. Por motivos como esses que deixei um bilhete na porta de Alison (Canadá) lhe convidando para um café.
  Por motivos como esses que ainda insisto em escrever. Há uma certa magia em puppies, law school e boas memórias.
  E, com certeza, em Cahuita #5.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Silêncio

  Silêncio que existe entre Vilde e eu desde o começo desta noite. Silêncio que eu mantenho, quieta em mim mesma, tentando até aquietar meus pensamentos.
  Um estopim.
  Uma frustração tamanha, de questionar porquês. De sair durante à noite em direção a sala de E Systems. Dormir com fome mas um também um buraco de mágoa no estômago. De lágrimas quentes, daquelas que enchem os olhos e embaçam a vista.
  De querer gritar e não poder. De querer correr e não ter para onde.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

  "Eu juro que não possuia nenhuma pretensão naquela sexta-feira. Nenhuma intenção de deixar o campus e andar até aquele não tão amigavel lugar, nem queria. Hesitei e acabei por ir, sem saber bem porque.
  Uma conversa um tanto quanto afetada frente a frente à um amigo de camisa azul numa mesa de bar e aos meus olhos azuis devido a semana sudaca. Sentava do seu lado uma menina de olhos azuis, o sentimento em meu coração kind of blue. E, out of the blue, deparava-me então com olhos de cor indefinida bem proximos aos meus.
  Ele era assim, meio todo indefinido"

  Um pedaço de algo perdido na memória do meu computador, um final assim como o real: do nada.

There are some things in my life I can't control

  Olhe só, olhe só você que le e você que escreve, Vitória: UWC não é um mundo perfeito.
  Na verdade não sei o que acaba por me frustrar mais, o fato das coisas não serem perfeitas ou de eu esperar que elas sejam. E por coisas não quero dizer o IB ou as frustrantes burocracias do colégio, mas mais as pessoas.
  Decepções em série: um comentário cheio de ódio, fofoca e até mesmo machista e uma declaração um tanto quanto homofóbica. Uma batida de palmas depois de 'bata palmas se você não gostaria de ter uma colega de quarto gay'.
  Só uma memória, mesmo que não tão bonita, de coisas que passam aqui em meio as coisas bonitas.