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domingo, 31 de agosto de 2014

A little lost

  Acordei com o corpo em suor e inquieto, como milhões de pequenas formigas caminhando lentamente por toda a extensão do meu ser. Acordar parecia um pesadelo. Ao meu lado dormia mais alguem, mas não bem quem eu queria. O braço em volta da minha cintura parecia querer me sufocar. Levantei, lavei meu rosto e sentei no topo da escada de Cahuita. Quatro da manhã. Pensei em todos os lugares aos quais eu típicamente iria, o que me causou certa frustração. Voltei ao #8 e o acordei. Levantou-se em um pulo. Disse que ele deveria ir para o seu próprio quarto. Levantou, me abraçou e buscou um beijo que não aconteceu. Olhou duas vezes antes de fechar a porta. Alcançei meu celular para mandar uma mensagem para um Evan que não podia mais me salvar dos meus próprios problemas.
  Acordei com Molly (USA) e Alice (UK) fazendo piadas sobre mim. Caminhei pela feria tomando meu refrigerante de lavanda e conversando com Karolina (Suécia). Comprei macarrons para o Evening Cafe e comi boa parte só pela memória que me trazem. Voltei ao meu quarto cansada e cai no sono um pouco tempo.
  Acordei com alguem batendo forte na porta. Mandei entrar. Alfredo (Honduras) entrou e me infernizou como sempre, mas dessa vez o problema era eu. O mal humor de acabar de acordar, o sonho que havia sido interrompido e minha já presente frustração me fizeram comportar de maneira um tanto rude. Deixei-o no meu próprio quarto e decidi eu mesma sair. Quando voltei o quarto estava já vazio. Acendi minha vela favorita e tirei a chave da fechadura. Abri de novo a porta e sai correndo.

  Quando voltei ao meu quarto, encontrei Karolina deitada em minha cama. "Espero que você não ache isso estranho" ela disse enquanto eu ria e respondia que nem um pouco. Me perguntou como eu estava. Respondi que adoraria responder que bem, mas na verdade não sabia. Acendi um par mais de velas e conversamos sobre casualidades e coisas um pouco mais sérias.
  Esse dia fragmentado foi como acordar novamente diversas vezes no mesmo dia. Tudo um pouco embaçado e com pouco sentido.

sábado, 23 de agosto de 2014

Pedra por pedra

  Começou ontem durante a fogueira, quando Nikolaj (Alemanha) me puxou para um canto. Me abraçou e secou minhas lágrimas. Conversamos de tudo que haviamos perdido e de tudo que havia a se reconstruir. Pedra por pedra. 
  Continuou hoje quando entrei em meu quarto e encontrei Alfredo (Honduras), que ficou sentado ao meu lado a noite toda e vi de volta ao meu quarto tocando violão. Uma amizade criada em três horas, fácil.
  Noite de abertura do Evening Cafe. Me vi o mais feliz que estive desde que cheguei aqui. Skypeei Evan (Canada) para compartilhar esse momento tão especial. 
  Pouco a pouco, pedra por pedra.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Talking like we know the world

  Há muito a se escrever aqui. Uma falha imensa de escrita, veracidade e personalidade. Uma grande brincadeira toda que isso é. Eu poderia falar do ojos color sol, de tudo que é tan cool y tan lindo. De tudo que já aconteceu, mas disso já não se faz grande proveito. Já passou.
  Deitada na cama de um Sebastian que chorava, depois ligamos o party rocker e ouvimos 'laugh so hard'. Lembrei de todos os meus bons momentos com o party rocker - e uma interrupção.
  Sinto que tudo que anda passando na minha vida vem com uma abrupta interrupção. O problema tambem não é uma falta de fim, mas sim de continuação. No mínimo um pouco de clousure.
 
  Sobre ontem à noite: Montezuma party é com certeza melhor no segundo ano. Sentei-me ao lado de fora após o fim da festa, adimirando a sala comunal, a janela do #7. Passei na frente do #1, sentei-me no sofá azul e acariciei a foto do ano passado na parede. Caminhei de volta até a sala de estudos de Cahuita onde me deitei e me permiti chorar por todos os items acima. Conversei com Evan que me prometeu que se saisse da Columbia Britanica nesse dezembro seria para me ver. Proximidade não tem nada a ver com geografia: me faz feliz que não tenha, mas ao mesmo tempo não faz.

  Esse post não tem começo nem fim, nem pé nem cabeça. E assim fica.

 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

I love you but you're bringing me down

  Lino (Alemanha) entrou em meu quarto sem bater anunciando que iamos comprar um leite que acabamos por não comprar. Trocamos uma conversa rápida quando percebeu mais outra coisa que parecia ser uma tradição entre nós e saiu do quarto me xingando enquanto ria. Me vi completamente sem palavras quando Evan (Canadá) anunciou meu nome depois do de Amy (Canadá) e Lino me presenteou com uma pequena caneca e o abraço que se tornou meu favorito de todo o mundo. Tomei uma eternidade de café numa comemoração enquanto Lino sussurrava que a melhor parte de ter o Evening Cafe é poder tomar o quanto quiser de graça. Um misto de total alegria e profundo abandono tomou conta de mim, junto com o medo de não fazer jus a duas das pessoas que mais amo neste mundo e a essa coisa tão especial. Soquei um Evan com um olhar nostalgico, como de alguem que já dizia à algo. Me senti mais uma vez abandonada e exclamei o quão injusto era ele me dar de presente algo tão maravilhoso mas que me fará pensar dele e sentir sua falta todos os dias. Me respondeu com um 'de nada, isso era parte do plano'.
  De alguma maneira foi algo que acalmou meu coração. Andava tão perdida, tão incerta achando que era uma completa falha, questionando até se esse lugar era para mim, mas percebi que talvez estava olhando para os aspectos errados. No Brasil tinha o melhor inglês entre meus amigos, mas quando meu grupo de amigos começou a se compor por canadenses, americanos, britanicos e irlandeses e tomei English Lang & Lit HL percebi que não era tão boa assim. A Vitória que chegou aqui obviamente não é a mesma que em uma semana parte, e não só cresci como também grew apart de muita coisa. De muita gente. Descobri diversas facetas de mim mesma que podem ser que não me agradem tanto, mas são tão reais. Quando todo mundo gritava 'discurso' e eu não sabia o que dizer, contei como aprendi a apreciar café aqui no colégio e que Lino havia feito meu primeiro café. Agora me vejo em cargo de um café, que me vale muito mais que coisas que eu valorizava tanto no começo. Que talvez até não fossem reais.
  Cada momento aqui parece ser uma certa conclusão, não só falando sobre meu primeiro ano no UWC ou no IB. Conclusões pequenas como a parede do meu quarto que se vê tão fazia, os olhos agridoces e já saudosos de Evan e sentimentos que já não existem. As férias devem estar aí para encerrar essa fase não só escolar como tambem pessoal. Para aprender a viver sem poder gastar meu conversando com Marcela (Brasil) na cama até tarde da noite e que é muito provável que a noite anterior foi a última delas. Cantar uma última música com minha fámilia brasileira e perceber que por mais que esse sentimento me tenha sido tão essencial no meu primeiro ano, não me parece tão ruim não ter-lo no segundo. Que se as pessoas são lares, é possível se mudar como qualquer outra casa. Um último abraço em um momento especial para perceber que as coisas mudam, por mais triste que seja. As caixas de som que Alice me deixou de presente, vindas de sua ex colega de quarto, agora no meu. Que por mais perdida que eu esteja, devo estar forte por que chega ano que vem. Os mil itens que dividi com Valeria por um ano todo e alguns que resolvemos deixar uma pra outra como os meus sapatos da felicidade, que mesmo ela se recusando a aceitar pelo que representam para mim, me parece justo que ela os leve. Porque ela é a minha representação de felicidade e porque tenho esse certo sentimento egoísta de que ela se lembre de mim e sinta minha falta.

Chasing cars

  Oriana (Venezuela) me sacodia por volta das oito e meia da manhã e minha já pouca felicidade em acordar cedo se agravou pela depravação de sono e estilo de vida ridículo que ando levando nos últimos dias. A viagem para San José foi quieta, mas como uma certa mágica tudo começou a melhorar enquanto desciamos as intermináveis escadas rodeadas de flores cor de rosa e Sebastian (Costa Rica) exclamava que Passiflora ali tocava. Cada momento por aqui anda um tanto agridoce, e por melhores que sejam os acontecimentos, há uma certa tristeza que vem com o final do ano. Lino (Alemanha) chacoalhava seus braços dizendo 'tchao' à sua última Feria Verde. Me fez perceber que não é ele que vai preparar meus cafés no Evening Café, justo ele que me ensinou a gostar de café e que nunca mais vou encontrar um macarron da Feria em minha cama com um bilhete amoroso vindo do Evan (Canadá) e eu nunca soube o quanto essas coisas me seriam importantes.

I don't quite know
How to say
How I feel

Those three words
Are said too much
They're not enough


  Caminhamos eu, Alice (Irlanda, namorada da colega de quarto, tão amada quanto a própria colega de quarto e uma das minhas melhores amigas do mundo), Valeria (Espanha/Moldova, colega de quarto, a pessoa mais incrível do universo e uma das minhas melhores amigas do mundo) e Lino (Alemanha, que não tem relação nenhuma com meu quarto mais não deixa de ser sem nenhuma dúvida uma das pessoas mais lindas do mundo e um amigo que eu tive sorte de ter) por San José durante uma hora, na qual Alice tirou um rolo inteiro de fotos, eu comprei para Lino flores, algo que virou uma certa tradição entre nós, essa intrega dele sendo uma das minhas coisas favoritas de todo o mundo.

If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?
(...)
I need your grace
To remind me
To find my own

 Valeria comprou um livro chamado 'Sexo Grupal' que rendeu umas boas piadas. Alice e Valeria caminhavam em nossa frente enquanto Lino e eu nos abraçavamos enquanto andavamos até ônibus no qual caímos no sono um no outro, o vento entrando pela janela e refrescando o calor que fazia por volta do meio dia. O meu desejo era que aquele ônibus nunca parasse e eu pudesse me encolher no conforto de Lino e me sentir segura só de sentir sua cheiro para sempre e que essa última semana nunca acabasse e minhas colegas de quarto não fossem embora e me deixassem com um quarto vazio. 

All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see

O taxi no caminho de volta do show do Calle 13 passava já por Lindora quando 'Chasing Cars' começou a tocar no rádio. Stijn (terceiro ano da Holanda que voltou para a graduação) sugurava a mão de Alice enquanto eu me encolhia nos braços de Evan, parcialmente para esconder meu choro e parcialmente pelo simples prazer de faze-lo, somente aproveitando o vento frio em meu rosto e seu cheiro tão particular. Os quatro cantavam e pela segunda vez no mesmo dia eu só queria dirigir pela cidade eternamente para evitar a efemêriedade desse momento e da vida como um todo.

I don't know where
Confused about how as well
Just know that these things will never change for us at all


Esse post foi escrito com o simples objetivo de que eu não me esqueça desses pequenos momentos.

domingo, 20 de abril de 2014

The upper peninsula

  Já passava das duas da manhã quando bati em sua porta, transtornada, em meu vestido vermelho e nada mas. Caminhamos pelo quadrado e nos vimos de volta em seu quarto. Passamos mais um par de horas acordados, conversando. Quando deitei na cama ao seu lado o céu já estava alguns tons de azul mais claro e os pássaros já cantavam. Me arrumou a cama, com um caneca cheia de água ao meu lado e, de todos os cobertores no mundo, o seu favorito. Cheirava a ele. Dormi umas poucas horas e voltei ao meu quarto. Tinha olhos manhosos quando eu voltava para deixar um bilhete um tanto quanto bold, mas que funcionou. 
  
O sol parecia penetrar em todas as camadas da minha pele quando caminhavamos nas ruas vazias, uma típica tarde de domingo. Nos sentamos no estacionamento em frente à pequena loja com um pote de sorvete e uma boa conversa, o mesmo ao caminhar de volta ao campus. You are a very amusing person. Yeah, you are kind of boring. Nos despedimos aos pés da escada de Montezuma, ele dizendo que deveriamos fazer isso mais vezes. Me perguntei quantas vezes cabiam em um mês e não gostei da resposta. Não verbalizei. 

  E de ontem, isso é o que mais importa.

  

domingo, 23 de março de 2014

For The Unemployed And Underpaid

  Só valhe dizer que em alguns dias acontecem muitas coisas e em outros não. O quão boa foi a noite de ontem se compara ao quão ruim foi a de hoje. O dia, até. 
  As luzes vermelhas me confundem e seus olhares também. 
  Há muito que eu gostaria de dizer aqui mas não posso. 
  Me dá vontade de fugir; para uma praia deserta, uma selva de pedra ou um par de braços.
  Digo e repito: o maior problema nesse lugar não é saber o que se quer, mas sim lidar com isso.
  Me dá vontade de fugir para lugares que nem conheço, o comforto da desatualizada ideia de lar ou um par de braços que não cheiram à nada além de pele. "I have my eyes on you, Bitencourt". As luzes vermelhas que me confundiam e sua cabeça em meu colo.
  Janta, as luzes da cidade e Holanda. Eu quero é fugir, não importa para onde e por quanto tempo.
  Velhas expressões e hipocrisias das quais eu não me salvo; a definição de hipocrisia é mesmo eu não me salvar, afinal. Não penso com minha cabeça, mas tambem não é outra que penso. Não quero perder tempo mas também não vou atrás. A bagunça do meu guarda-roupa tem uma ligação direta com a bagunça da minha cabeça que talvez eu também não queira arrumar.

  

terça-feira, 18 de março de 2014

Pop

  Em tempos de tristeza,é bom pensar em coisas que lhe deixam feliz. Entrei em meu quarto, abri a gaveta e agarrei uma pilúla para a dor de cabeça e o meu balão mais bonito. Vermelho. Escrevi uma mensagem com minha sharpie preta e enfiei um chocolate do meu favorito. Bati na porta de seu quarto, lhe deixei o balão e a si mesmo com uma cara de perdido. Enquanto eu saia de Montezuma, ouvi um pop.
  Poucos minutos depois, ouço um toque em minha porta. Poem a cabeça para dentro e diz 'o balão estourou antes que eu pudesse ler!' com uma falsa cara de tristeza. Rimos enquanto sentou na minha cama e eu dizia o que havia escrito no balão enquanto comiamos mais chocolate.
  'You should come to Canada', disse brincando e de boca cheia.
  Como eu gostaria de ir para o Canadá.

Coisas que eu deveria fazer (I always knew)

  Eu acho que as vezes (sempre) me falta um post ou outro que sejam mais sobre a vida aqui no colégio, o academico, o que eu ando fazendo, e não somente sentimentos aleatorios. Escrevo esse, por exemplo, enquanto deveria estar escrevendo minha redação de Historia, mas procrastino ao invés.
  O academico anda... Peculiar. Por mim, diria que anda bem. Poderia melhorar em matemática, começo a gostar mais de E Systems, Historia é a maravilha de sempre, em Artes JuanPa continua me enlouquecendo, o que tudo bem - me traz mais ideias que ele me manda por em prática. Desisti de Portugues Self Taught e agora tomo Espanhol B SL; extremamente fácil, e Johnny (o professor) vive numa constante tentativa de me tirar da classe. Ingles, aos meus olhos, vai bem. O que anda dificil é os olhos dos outros, e perceber que a maior pressão para mim não vem dos meus professores, diretores e nem de mim mesma. 
  É dificil se reafirmar nesse lugar. Semana passada tive um certa crise. Veja bem, fofoca existe, é até meio idiota achar que aqui não; mas a fofoca vindo da staff, sem saber o que diz e porques detrás do que passa, comentários maldosos vindos de amigos e certos problemas logisticos com tortillas me fizeram parar no quarto do Pietro (Brasil) chorando sobre tacos até cair no sono.
  Não quero parecer uma hipócrita e deixar passar que minha vida anda meia boca porque não é verdade - não são tempos ruins ou dificeis, só complicados. Não ando querendo lidar com nada muito sério, ou por dizer, que traga stress maior. Foi por isso que evitei uma conversa sobre sentimentos (ou a falta deles) com Max, tendo como argumento principal em nossa conversa que bem, eu não queria conversar. A verdade é que o tempo aqui é muito curto e não há tempo para tudo - sendo conhecer pessoas ou fazer todas as atividades que se deseja. O academico tem um padrão de me enlouquecer um par de semanas por trimestre e depois ser maleavel, e decidi adiministrar meu tempo melhor para poder me enlouquecer um pouco menos. E decidi tambem que não havia tempo para Max, ou lidar com essa situação, por mais duro que pareça. Me parece muito mais importante e prazeroso nesse momento ter tempo para tomar o academico mais a sério, dedicar tempo a novas e antigas amizades, aproveitar o tempo que resta com meus segundos anos. Eu sei que a vida não é feita só das coisas que gostamos, mas prefiro muito mais passar minhas noites em upstairs Cahuita com meus amigos do que ter conversas desconfortaveis. Prefiro muito mais os abraços do Evan, conversas com Alice antes de irmos dormir, os conselhos nada de pai do Michael, ou a mera existencia da Valeria e da Marcela. Se devo dividir meu tempo de alguma maneira aqui pelos proximos dois meses, será assim.
  Muita coisa aconteceu no colégio nesse ultimo mes. West Side Story finalmente acabou, e comemoramos nos dois dias no Amigos. Dois alunos do UWC-USA vieram passar uma semana conosco e eu meio que desejei que eles ficassem pra sempre. Semana da mulher passou em um estalar de dedos, mas foi incrivel. No sábado, passamos a tarde toda na sala de arte pintando nossos corpos, ouvindo musica e conversando, um dos meus melhores dias aqui.
  Para essa semana há, IA de E system, prova de matematica, Written Task de Ingles, apresentação de TOK, aniversário do Lino e muita coisa que ainda nem sei.
  Andei frustrada por esses assuntos de saber; me arrependi de coisas que fiz, e sabia que estava fazendo - me recuso a culpar qualquer variável externa pelos meus atos. Não foi a conversa com Lino atrás de Mal Pais na noite do sabado passado que magicamente fez tudo tão errado: já estava errado antes, ele só me fez perceber. Coisas que eu deveria ter feito, ou até deixado de fazer; mas que eu sempre soube.
 Eu sempre soube.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Há grande paz nesses tempos de caos

  Achei que o que postei ontem merecia um novo caminho:

"Caminhavamos de volta ao campus Clara (Chile/Holanda) e eu quando a luz de Santa Ana se acabou, por volta das dez da noite. A falta de qualquer coisa aos meus arredores que tivesse energia me sufocou, me senti vivendo numa bolha de verdade, coisa que nunca passaria na massiva São Paulo. A falta de qualquer energia em meu interior se demonstrava pelos meu tom de voz elevado e o nó em minha garganta enquanto argumentava com Clara que sempre me respondia em voz calma. 
  Carregava um sorvete em minhas mãos e outro em uma sacola, e não sabia se eu comia tudo tão rapidamente por medo de derreter ou ansia nervosa - história da minha vida. Fui à Montezuma, mas voltei dez minutos depois. Não respondi ao que me disse porque não sei mais nem o que dizer à mim mesma, quem dira os outros."...
  ...Voltei ao #1 pouco tempo depois, e quando sai já bem mais triste do que havia entrado, acabei cruzando com Evan (Canadá) que parecia estar sempre no lugar certo na hora certa, mas substitui sua companhia logo por outra que me vale ainda mais. Uma intensa conversa, mas necessária. Um click, e tudo estava em seu lugar e a bagunça de sentimentos e lagrimas da situação acabou trazendo uma certa paz. (dessa vez, isso é uma indireta bem direta à você, que sabe do que eu estou falando. Pela milésima de milhões de vezes, eu te amo). 
  Caminhamos de volta ao #1 que voltou a ser meu #2 lar. Cantavamos Pietro (Brasil) e Max (USA) sobre nunca ter que ver a cara de Ali (Iraque) de novo. Quando deitei em minha cama em Cahuita #5, encontrei um bilhete que dizia 'espero que isso lhe faça sentir melhor, -Evan' e um macaroon da Feria Verde, meu favorito. Dormi feliz.
  O dia seguinte passou bem; ensaio do musical, pizza de almoço com Vilde (Noruega) e terminar meu dia em Montezuma #1, escrevendo no escuro com um Pietro que já adormeceu. Há milhas de distancia, converso com Sofia que como sempre me traz uma certa realização: "me sinto tão mais tranquila mesmo que dentro dessa loucura.. quer dizer, ainda sou oito ou oitenta, amo ou odeio, mas sei lidar com isso e esse é o meu estavel". A verdade é que, as coisas nunca foram tão boas mesmo estando um certo caos. 

terça-feira, 4 de março de 2014

40 dias e 40 noites

  Caminhavamos de volta ao campus Clara (Chile/Holanda) e eu quando a luz de Santa Ana se acabou, por volta das dez da noite. A falta de qualquer coisa aos meus arredores que tivesse energia me sufocou, me senti vivendo numa bolha de verdade, coisa que nunca passaria na massiva São Paulo. A falta de qualquer energia em meu interior se demonstrava pelos meu tom de voz elevado e o nó em minha garganta enquanto argumentava com Clara que sempre me respondia em voz calma. 
  Carregava um sorvete em minhas mãos e outro em uma sacola, e não sabia se eu comia tudo tão rapidamente por medo de derreter ou ansia nervosa - história da minha vida. Fui à Montezuma, mas voltei dez minutos depois. Não respondi ao que me disse porque não sei mais nem o que dizer à mim mesma, quem dira os outros.
  Só nomeei esse post 40 dias e 40 noites porque já começa a quaresma e Alice (Irlanda) e Valeria (Espanha) discutem sobre isso ao me lado. Todo mundo abrindo mão de algo sem nem sequer um dever religioso, e Alice me disse que era para "apreciar mais" as coisas depois. Será?

segunda-feira, 3 de março de 2014

"Nunca teve olheiras. Nunca conheceu o amor"

  Deitavamos juntos na minha cama, em Cahuita #5 assistindo um filme. O quão detalhado esse escrito é é tão detalhado quanto o que passou. Ou não passou. Fechou seu computador ao fim do filme e ao fim do dia - já era mais de meia noite. Deitamos-nos a poucos centímetros de distância quando havia distância alguma. Cai no sono com ele me olhando e acordei quando sai da cama.
  Passei o dia todo irritada. Evan (Canadá) me olhou na cafeteria e me perguntou o que havia passado, e eu respondi com um 'eu nem sei mais o que está acontecendo'. Me abraçou, riu e disse que ia ficar tudo bem. Reclamei da vida mais tarde em Flamingo #5 com Marcela (Brasil) e me empanturrei de cookies com Vilde (Noruega) e Alison (UK). Terminei o assunto com Evan durante o jantar e ele riu ainda mais. Um click.
  Algumas perguntas não tem respostas, e algumas respostas não tem explicação. Um dia relativamente bom se transforma em um dia frustrante tão rapidamente... Mas a maioria das perguntas tem sim resposta, o que falta é encarar. Encarnar. Lidar. E tudo que vem acontecendo me leva ao meu limite - de alegria, de raiva, de ira, de querer. Toda moeda tem dois lados, e todo mundo ignorou é a minha cara. Ninguem encara que coroa é passado. Que o tempo passa. Antes consumia meus pensamentos, e agora consome meus nervos - de todas as maneiras possíveis.
  Hoje não há filme e nem seus olhos à pairar. Não há par de olhos nenhum. Ninguem vela por mim hoje. Ninguem vela e eu só me queimo.
  

domingo, 2 de março de 2014

17

  Meus dezessete anos começaram na quinta-feira passada, no meio de uma rainforest em algum lugar da Costa Rica. Monteverde era lindo. Voltei de uma caminhada noturna em busca de sapos quando encontrei, de volta na cabana, um parabens inusitado (em inglês, espanhol e português, como sempre aqui no UWCCR) e um bolo feito por Alice (Irlanda) e Alison (Canadá). O  dia seguinte passou bem, muito bem. Com direito a mais bolo, mais Costa Rica e mais gente incrível. Dividi o quarto com Clara (Chile/Holanda) e me vi desabafando com ela durante a noite do meu aniversário - triste, mas tambem farta de aguentar tudo que vinha passando - e vi que era hora de mudar. 'Eu realmente acho que você devia seguir seu coração... E só'. Desenhei minha primeira landscape, para minha surpresa. Percebi quantas primeiras vezes ainda tenho e quantas coisas novas ainda posso fazer.
  Voltei para o colégio já saudosa do campus. Amei Valeria (Espanha, roommate) por uma boa meia hora e depois fui para Montezuma. Um abraço apertado, 'i missed you', e as coisas ainda eram as mesmas.
  Meu terceiro dia como uma mulher de dezessete anos foi um dos meus melhores aqui. Acordei cedo, e com Alison (UK) e Clara fui em uma aventura em San José. Fomos à Feria Verde, onde comi falafel, macarrons e uma bebida um tanto quanto mágica, à vários brechos (onde compramos jaquetas bregas e combinando), um museu de arte onde me sentei pacíficamente com Alison por um bom tempo, e um café meio hipster em que fizemos um pouco de arte e comemos um brownie meia boca na sacada. Voltamos as três felizes e pobres lá pelas seis da tarde.
  Saí meio foragida do meu quarto lá pelas oito e fui ao Pollos Male com Max (Alasca), mais um lugar em que ele se mostrou frustrado em eu não o deixar pagar a conta. Andamos de volta ao campus e depois ao Amigos, onde Evan (Canadá) me pagou um shot de tequila pelo meu aniversário. Tive uma boa conversa e ri muito com ele e Lino (Alemanha), duas pessoas com as quais eu nunca me veria amiga no passado.
  De volta ao campus, e a Montezuma, deitamos em sua cama para assitir um filme. Ali (Iraque) disse que deveriamos ser um casal. Ninguem falou nada. Assistimos o filme até eu me pegar cochilando, quando decidi voltar para o meu quarto, de onde escrevo agora.

                                                      Falafel e bebida mágica na Feria Verde


Eu, Alison (UK) e um brechó



Na galeria de arte



Alice e meu aniversário em Monteverde


Arte no café hipster


Cachoeira em Monteverde


Uma justa intervenção em San José

É que eu prefiro morrer de overdose

  Fazia frio quando eu voltava do Multiplaza com a Vilde (Noruega, roommate) no domingo a noite. Justo eu, que esperava mais calor durante a dry season encontrei é um frio que me surpreende a cada dia mais. Não haviam muitos carros na pista lá pelas dez da noite quando coloquei minha cabeça para fora da janela do taxi. O vento me sufocava, e me maravilhava o fato do excesso de algo acabar lhe dando é falta.

   - Sabe, se eu fosse me matar, eu me jogaria de um prédio. Quero morrer é de excesso, não de falta.
   - Eu me jogaria na frente de um trem. Rápido. Sem dor.
   - Ew, Vilde.
   - Qual o problema?
   - Nenhum. Só imaginei que você ia querer morrer de uma maneira mais classuda.

   Memórias vagas de uma conversa profunda de uma semana atrás.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Notação Polonesa inversa

  Acordei de bom humor, mas o mundo parecia não me querer no dia de hoje. Entrei em artes, meu primeiro e único bloco animada e sai com imensa frustração. Queria matar JuanPa e fazer uma peça com seus restos. Até o chiclete que Alison (UK) mascava de boca aberta me encomodou. As classes eram muito quentes e as apresentações de TOK dos segundos anos pouco conclusivas. Novamente me estressei com Margot (Holanda) sem muito motivo além do fato de ela tentar me dizer o que fazer (ou talvez que ela ainda não tenha entendido que não é assim que eu funciono).Jay não me permitiu trocar o meu CAS de serviço e os cachorros correram até os portões do inferno e eu e Juliette (França) corremos por Santa Ana atrás deles. As três da tarde eu me encontrava com calor, sede e fedendo à cachorro (literalmente).
  Saímos eu e ele para um café. Quando voltei ao meu quarto, Alice (Irlanda) havia sido convidada a algum tipo de organização estranha porém bem da gran fina. Comemoramos com pizza à luzes de vela, Cahuita #5 completo com Alice, Vilde (Noruega), Valeria (Espanha), Pietro (Brasi) e Papa Johns.
  Depois de um skype com a minha mãe e me sentir sick - ambos homesick e doente propriamente dito, fui ao #1 de Montezuma. Sentei-me no chão no banheiro e conversamos, sobre qualquer bobeira e asma. Sugeriu que fossemos dar uma volta pelo campus, e assim o fizemos lá pelas onze e meia da noite. Esbarramos em Ingvild e Vilde (Noruega x2) e fizeram piadas de como deveriamos andar de mãos dadas. Me senti estranha. De volta ao #1, Pietro dormia. Fui ao seu quarto para aliviar meus problemas e sai com uma razoável porção extra. Um copo prestes a transbordar.
Max:' Hey Jay, você sabe onde eu posso encontrar uma calculadora de notação polonesa inversa?'
Jay: 'eu não faço ideia do que isso seja', disse Jay enquanto procurava no google, 'olha só que enrgaçado Vitória, parece um pouco como você', respondeu antes de ler uma breve definição em voz alta: "Notação polonesa inversa é a notação matemática em que cada operados segue todos os seus operandos"
Quem diria que um dia eu me reconheceria em uma notação matemática...

"a notação polonesa reversa (RPN) apresenta as seguintes vantagens:
  1. Reduz o número de passos lógicos para se perfazerem operações binárias e, posto que as demais operações são ou binárias puras compostas, ou binárias compostas com unitárias ou apenas unitárias, o número total de passos lógicos necessários a um determinado cômputo será sempre menor que aquele que utiliza a sintaxe convencional (lógica algébrica direta);
  2. Trabalha com pares ordenados a priori, somente definindo a lei de composição binária aplicável após a eleição e a introdução do desejado par no cenário de cálculo. Até o momento final, se poderá decidir pela troca ou pela permanência da operação original.
  3. Minimiza os erros de computação, automática ou manual assistida;
  4. Maximiza a velocidade operacional na solução de problemas."

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Frango frito, café irlandês e cigarros

  Caminhavamos Clara (Chile/Holanda), Fabiha (Zambia) e eu em busca de velas e uma pequena aventura em uma tarde livre. Entre Don Quijote, a loja de doces e a sorveteria, nos sentamos em frente a igreja e conversamos pela tarde inteira, o sol esquentando minha pele o vento a refrescando ao mesmo tempo. Uma tarde normal, de tomar sorvete e conversar três horas inteiras sobre coisas triviais. Me senti como alguém da minha idade novamente, sem nenhum estresse de colégio depois de que batesse o sinal como acontecia no Brasil. Uma pessoa normal, de dezesseis anos, que aproveita do prazer de jogar uma tarde inteira fora em troca de uma simples conversa. Fabiha e eu sopravamos bolhas de sabão enquanto Clara tomava um sorvete.
  Voltamos para o colégio, tempo para trocar de roupa, buscar Eleanor (Holanda) e Pietro (Brasil) e sair novamente. Fomos ao Pollos Male, comer frango frito e batatas e jogar mais conversa fora. Eleanor e Pietro voltaram mais cedo porque tinha ensaio para o musical, enquanto nós três nos quedamos comendo (mais) frango e falando do futuro; de sermos segundos anos, de novos primeiros anos, de sleepovers em upstairs Cahuita. Nunca mencionei uma das minhas coisas favoritas por aqui: upstairs Cahuita. Me encanta a concentração de pessoas entre o #5 e o #6 (Clara, Amiya, Krysia e Alison por consideração), com todas suas moradoras e outras migrantes. As portas de ambos os quartos abertas, de frente uma pra outra, quase que um quarto só.
  Caminhavamos pelo frio andava fazendo em Santa Ana durante a noite, uma pausa para comprar cigarros e café irlandês. Nos sentamos na Green House, de onde roubamos uma bean bag para Cahuita que, essa semana, ganhou nova decoração. Cortinas, almofadas, mesas e Cahuita tem mais cara de casa que nunca.
  Um post nada importante, nada representativo, poético ou memorável - apenas um dia imensamente agradável.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Acostumbrarse

  Minha noite começou com vinho, New Girl e Alison (UK) em meu quarto.
  1: Festa afrocaribenha, Alice (Irlanda) esfregou tinta vermelha em meu rosto, e logo eu estava em Montezuma #1. O que aconteceu no meio tempo realmente não importa. Caminhavamos de volta à festa, e esfreguei tinta vermelha em seu rosto também.
 
  2: "Por que você não gosta de mim?"
      "Eu não gostava de você. Agora eu gosto. Até deixei um bilhete na sua porta para o dia dos namorados."
      "Aquilo foi você?"
    Sorriu, me abraçou, dançamos.
      "A gente deveria sair"
      "Agora?"
      "Sim!"
    Pegou minha mão e correu. Correu atrás de uma permissão que na verdade era uma folha; não saímos enfim. Me disse que queria voltar para o seu quarto e eu disse que o acompanhava.
      Me fez várias perguntas.
      "Por que você não gostava de mim?"
      "Porque você magoou alguem que eu amo. É bem justo, na verdade. E você fez isso por alguem que você ama tambem"
      " Nós nem somos mais amigos. Eu não gosto dela. Vocês são amigas?"
      "O que eu acho é que eu fui amiga dela mas ela nunca foi minha"
      Me disse que eu era muito legal e me agradeceu por caminhar com ele.
      Eu descia as escadas quando vi a porta de Tortuguero #1 se fechar.

      Entrei no meu quarto depois de caminhar sozinha do Amigos. Clara (Chile) bateu na porta e apontou um pacote dos meus biscoitos favoritos que alguem havia deixado para mim. Alegrou minha noite. Deitou-se ao meu lado e conversamos até Vilde (Noruega) entrar no quarto, e depois Amiya (India) e Alison (UK). Sairam todas depois de um tempo, e Vilde e eu começamos uma empreitada em matar uma aranha. A aranha sobrevive, mas fora do nosso quarto.

    3: e três da manhã. Me mandou uma mensagem dizendo que tinha vodka e não queria dormir sozinho. Voltei a Montezuma, mas dessa vez não ao #1. Conversamos no escuro, bebemos uma vodka Nicolai que queimou meus orgãos internos. Pensei em Nicolaj (Alemanha), que disse que acreditava que eu era o tipo de pessoa que ia encontrar o amor da minha vida enquanto nos sentavamos no corredor de Cabo Blanco no da dos namorados. Não dormi em Montezuma nessa noite.
 
    De volta a Cahuita, cobri as janelas, coisa que Valeria (Espanha/Moldova) parecia odiar fazer. Resolvi dormir sem roupa naquela noite. Acordei com ele aos pés da minha cama, um buquê de flores nas mãos.

Acostumbrarse: tener el habito; habituar a alguien o algo nuevo; suceder usualmente.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

50/50

  Caminhavamos de volta do almoço juntos - haviamos almoçado com Margot, uma ótima combinação de pessoas. Me lembro de me mostrar a língua depois de uma piada que fiz com sua faca de bolso, a coisa mais adorável do mundo. Entrei em seu quarto e reclamei um pouco da vida. "Bom", ele respondeu "eu acho que você deve deixar ele para lá e sair comigo no dia dos namorados e se divertir". Não respondi, fiz uma piada.
  Voltei mais cedo do amigos, um pacote de oreos que não havia comido no bolso - parte por culpa depois dos outros três que já havia comido, parte por uma desculpa esparrafada de procurar-lo. Mais cedo, na cafeteria, perguntei, como quem não queria nada, o que ia fazer durante a noite, mesmo sabendo que se não estava saindo com ele a culpa era inteiramente minha. Me disse que sairia com outra. Me senti traída na minha própria traição. Passei reto por Cahuita - é bom o sentimento de que sempre vai haver alguém em Montezuma #1. O encontrei no banheiro e depois fomos ao seu quarto, à luz de lanternas.
  "Eu tenho um par de velas aqui, talvez algum dia a gente devesse ir conversar lá fora a luz de velas ou alguma coisa do tipo", e de novo fiz alguma piada sem nenhuma profunda graça. Disse que ia dormir e ele respondeu, de um jeito engraçado, que se fosse por ele eu ficava para sempre.
  Sai do quarto com a imagem dele deitado na cama, nós dois rindo do seu "chisme of the day".

  "You know, fifty per cent of what I say is a joke, the other fifty is actually true".

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

...e uma continuação: ainda sobre o fim, ainda em Cahuita #5

  'Eu pensei que minha vida era o Brasil. Agora carrego a minha vida por ai em uma mala de tempo em tempo, mas se eu perder a mala também está tudo bem. Pensei que nesse quarto estava minha vida, mas a verdade é que ano que vem vai ser só.. um quarto. O que é a minha vida, afinal?'
    'Vitoria, eu comparo meu relacionamento com você com o meu relacionamento com a minha colega de quarto do ano passado. E, sabe, depois disso você nunca vai se sentir inteira de novo. Sempre vai ter alguma coisa faltando, um pedaço de você perdido no mundo. E pra mim tudo bem, porque eu sei que minha colega de quarto esta em algum lugar desse mundo, just being. Há uma certa beleza em só ser/estar. Tiveram dias que eu chorei, lágrimas de dor, de não ter ela comigo. Mas se você ama alguem de verdade, sempre vai amar, e eu sempre vou te amar e estar feliz por você estar por ai just being'

'Sabe de uma coisa', eu disse entrando no quarto que não poderia ser mais meu, 'nenhum dos meus amigos nunca fez intercâmbio, minha mãe nunca viajou, nunca alguem que eu conhecia morreu. Essa, então, é a primeira vez que eu vou perder alguem. E não é como se você fosse fade away com o tempo, a gente organicamente parasse de se falar; um dia, você só vai pegar suas coisas e ir embora. É uma perda consciênte e consentiva'.

O que é minha vida, afinal?

Em Cahuita #5:

  Alice entra no quarto casualmente e me pergunta como foi meu dia. Respondo algo curto e vago e pergunto de volta, ela me responde que o melhor da sua vida porque foi aceita em sua universidade dos sonhos. Levantei da minha cama emocionada e corri com meu pé torcido até ela.
  Não falta muito tempo para o final do ano. Tenho que me conformar que não existem infinitas noites de Alice e Valeria escrevendo juntas em seus diários na luz baixa de Cahuita #5 e que ano que vem nem Cahuita #5 vai ser meu. Não haverão mais flores mortas que Alice havia presenteado Valeria com a semanas atrás e nem noites de guacamole. Por motivos como esses que deixei um bilhete na porta de Alison (Canadá) lhe convidando para um café.
  Por motivos como esses que ainda insisto em escrever. Há uma certa magia em puppies, law school e boas memórias.
  E, com certeza, em Cahuita #5.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Silêncio

  Silêncio que existe entre Vilde e eu desde o começo desta noite. Silêncio que eu mantenho, quieta em mim mesma, tentando até aquietar meus pensamentos.
  Um estopim.
  Uma frustração tamanha, de questionar porquês. De sair durante à noite em direção a sala de E Systems. Dormir com fome mas um também um buraco de mágoa no estômago. De lágrimas quentes, daquelas que enchem os olhos e embaçam a vista.
  De querer gritar e não poder. De querer correr e não ter para onde.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

  "Eu juro que não possuia nenhuma pretensão naquela sexta-feira. Nenhuma intenção de deixar o campus e andar até aquele não tão amigavel lugar, nem queria. Hesitei e acabei por ir, sem saber bem porque.
  Uma conversa um tanto quanto afetada frente a frente à um amigo de camisa azul numa mesa de bar e aos meus olhos azuis devido a semana sudaca. Sentava do seu lado uma menina de olhos azuis, o sentimento em meu coração kind of blue. E, out of the blue, deparava-me então com olhos de cor indefinida bem proximos aos meus.
  Ele era assim, meio todo indefinido"

  Um pedaço de algo perdido na memória do meu computador, um final assim como o real: do nada.

There are some things in my life I can't control

  Olhe só, olhe só você que le e você que escreve, Vitória: UWC não é um mundo perfeito.
  Na verdade não sei o que acaba por me frustrar mais, o fato das coisas não serem perfeitas ou de eu esperar que elas sejam. E por coisas não quero dizer o IB ou as frustrantes burocracias do colégio, mas mais as pessoas.
  Decepções em série: um comentário cheio de ódio, fofoca e até mesmo machista e uma declaração um tanto quanto homofóbica. Uma batida de palmas depois de 'bata palmas se você não gostaria de ter uma colega de quarto gay'.
  Só uma memória, mesmo que não tão bonita, de coisas que passam aqui em meio as coisas bonitas.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Necesito tiempo

  Mesmo sendo quinta-feira, saímos quase todos - obviamente em direção ao amigos - mas com um motivo especial: TEDxUWCCR havia sido um sucessom com um final surpreendente: brigadeiro, coxinha, pão de queijo e guaraná doados pelo Centro de Cultura Brasileira daqui da Costa Rica.
  Voltei para o colégio sentada com Eleanor (Holanda) e conversavamos sobre o nosso futuro quarto, sonhavamos sobre como seria nossa outra roommate, conversa essa que só me fez sentir pior sobre mim mesma mais tarde. Chiara (Austria) perguntou timidamente se poderia sair conosco enquanto riamos de Brenda (nossa cordenadora de residência) que não queria assinar as  permissões para não estragar as unhas.
  A noite foi como qualquer outra: gasolina, imperial e outras cositas mas, uma pitada de medo de John que andava pairando ezcessivamente sobre os alunos nos últimos tempos. Um shot com Becca (US) foi o suficiente para me deixar desinibida mas não alegre. Avisei Vilde que voltaria para casa mais cedo e sozinha. O vento forte da dry season fazia os cabos de energia baterem forte uns contra os outros na rua vazia e silenciosa, imaginei como seria se um deles se rompesse e eu morresse ali - um pensamento creepy e embreagado. Não ajudou muito quando o encontrei na laundry room. Voltei pro meu quarto sozinha, cansada e mais confusa que nunca. Dormi de luzes acesas e calça jeans, acordando com uma Vilde bêbada me perguntando se eu estava dormindo.
  Voltei a dormir pensando o quão confuso é o fato de que tenho tão grande certeza do que quero no futuro e não consigo lidar com o que quero agora. Não contei à ninguem, mas a pergunta de Molly (US) e a minha demorada resposta e os constantes olhares de Vilde de quem bem me conhece e sabe o que estou fazendo me fazem... Não sei.
  Escrevo ao lado de Sebas (Costa Rica) enquanto deveria estar fazendo minha redação de TdC, com uma faca, uma garrafa de vinho e uma tentativa frustrada de bebe-la. Não é como se eu sempre fizesse o que deveria e o mundo respondesse de acordo.

"Necesito tiempo para amarte, para odiarte, para olvidarte. Necesito tiempo para saber que quiero."

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Há algumas noites atrás, só havia o som das minhas botas

  Descia quatrocentos metros da Igreja sozinha. Sozinha, sola. Um vento gélido que entrava pelos microfuros da minha camiseta as onze da noite. Deitei no campo vazio, barriga virada para o céu. O céu que aqui na Costa Rica me parece uma cúpula baixa, tão proxima da terra. Questões hemisferiais ou sentimentais. O céu em São Paulo me parecia longinquo, distante, à parte. Não existe amor.
  Mas essa visão de cúpula me faz pensar que o mundo é menor, que a distancia (seja emocional ou física) é menor. Me conforta. Porque dentro dessa cúpula está tudo que eu posso um dia almejar e me parece bem mais alcançavel. Não me sinto tão longe e tão ilhada. Até um pouco mais amada.
  Menos quatrocentos metros depois,  estava no calor do meu quarto, o abajur deixava tudo um tanto alaranjado. O quarto alaranjado não é tudo que há, assim como não pode ser que você seja tudo que há. Até porque, como as luzes do natal que já passou, boa parte de você anda queimando e já nao pisca. 1000 estrelas talvez sejam só 999 e isso pode não ser suficiente. Talvez exista até 1001.

"Mãe, eu sei que ainda guarda mil estrelas no colo. Eu, muitas vezes, acredito que mil estrelas são todas as estrelas que existem"





terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Under pressure

  Meu dia começou mal: o despertador com seu barulho irritante gritava as seis e meia da manhã. Rolei na cama por quase uma hora inteira, cólicas. Levantei com o medo de dar as caras em English Lang and Lit HL depois de toda turbulência da não mudança mas não havia como adiar isso. Já na aula me sentia melhor, consegui participar de uma maneira que me satisfez e rendeu um 'great job' vindo de Matt (professor de Inglês, algum lugar no Reino Unido com um sotaque lindo [e compreensivel]). Um comentário um pouco desencaixado de Margot (Holanda) no meio de uma discussão me deixou para baixo - de maneira que me sinto muitas vezes por aqui pelo mesmo motivo idiota que é a língua. Meu bloco livre passou em branco, artes me estressou em um nível que poucas vezes estive - pelo menos não por causa de questões acadêmicas. Um comentário fora de lugar me deixou sem graça e com raiva. Voltei ao meu quarto me sentindo a pessoa mais oprimida da face da Terra.
  Semana de prova, essa e a outra. Algumas delas são pessoais.
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Chuva ácida...

é essa que não cai por motivos sazonais e deixam o campo de futebol em frente a sorveteira incrivelmente amarelo;
é essa que cai dos meus olhos, desfazendo a minha falsa beleza, rios negros em minhas bochechas.

Quando eu deixei a Costa Rica em dezembro, um 'até logo' mais complicado do que parecia ser, chovia todo dia. A terra cheirava à vida e os planos se baseavam em antes e depois da chuva, tudo era verde e novo. 
Voltei em uma estação diferente - dry season- e agora nunca chove. É tudo seco, amarelado, outono sem vida. A grama pinica. O sol é forte e o vento também. De noite faz frio.
Eu, na aula de E Systems, lembrei de chuva ácida. Me fazia pensar no passado, a cor bordô e coisas que eu ainda não descobri. Eu gostava da chuva ácida, mesmo sem acreditar nela.
Quando eu era pequena imagina que a chuva ácida era algo que deixaria todas as pessoas parecendo queijo suiço.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

?

  Aqui vai algo sobre títulos: eles me sufocam. Sendo título desta postagem que me pede o blog ou uma breve descrição da minha semana, a vaguidão de um simples título me traz o desespero de tudo ser meramente o que se diz ser. Enfim:
  Minha semana começou com uma decisão drástica mas ao mesmo tempo muito da sensata - eu iria para English B. Uma tarde pacífica na sala de artes com Alison (Reino Unido) com seu estranho gosto musical, como ela mesma dizia, se seguiu com Reunião de Residência que eu creio ser divertida assim só aqui em Cahuita. Dividimos como em cada sessão nosso 'happy moment' do dia, escolhemos tecidos para as cortinas novas e planejamos uma noite da pizza para quando Chiara, a nova Cahuita chegasse. 
  Na terça feira, apesar de ter a manhã livre, acordei cedo para tomar café da manhã e me encontrar com Brian, o conselheiro universitário daqui do colegio para discutir minha mudança de aulas. Me convenceu então em continuar em English Lang and Lit HL, uma decisão muito influenciada pelo meu choro com Matt (professor de Ingles) as nove da manhã. Frustrada, voltei ao meu quarto onde Alice (Irlanda), Valeria (Espanha) e Vilde (Noruega) me aconselharam e me colocaram para cima. Mais tarde, pedimos pizza e comemos no quarto depois de um dia extremamente enlouquecedor, terminando com Clara (Chile), Alison (Reino Unido), Becca (USA) e eu assistindo Keeping up With The Kardashians e Vilde e eu cantando músicas antigas antes de dormir.
  Na quarta Marcela (Brasil) e eu lideramos nossa primeira sessão do CAS de Portugues que abrimos aqui no colégio. Surpreende o interesse e involvimento de quem estava lá, muito melhor do que a falta de interesse que é sempre esperada de CASs.
  Na quinta feira me sentei por quatro horas com Eleanor na study room de Cahuita, comendo guacamole que eu havia preparado e trabalhando no meu workbook. Acordei na sexta para uma aula de matematica a qual não prestei atenção, TdC que pela primeira vez me interessou fazer um ensaio e historia com uma eterna quantidade de trabalho que eu amo, mas ainda me custa devido ao espanhol. Houve tambem o CAS de Volleyball, aberto por mim e Evan (Canadá), outra maravilhosa surpresa. Por duas horas jogamos no sol enquanto Erwin (Finlandia, que acredito que terá só essa participação em minha vida) tocava músicas.
  Há muito por vim. TEDxUWCCR, provas, ensaios, reuniões, festival de música e (não tão) distante, até um concerto de Calle 13 (um dia depois do fim das minhas ultimas provas como primeiro ano. Como isso aconteceu?). Há tambem muito that I couldn't see coming - eu, gostando de E Systems e sabendo a matéria, e ao mesmo passo Isaac (meu professor, um dos melhores que já tive) indo embora no final do ano. Meu aproximamento com pessoas que estavão tão próximas mas eu não podia ver, uma venda tirada dos meus olhos. 
  Não final das contas, a vida ainda é sobre coisas azuis, comer Pipas espanholas e descobrir a cada dia um novo mundo. Cada dia uma nova surpresa. Me vuelvo a escribir, a lograr meu espanhol e a questionar tudo que eu sei (oh, TdC). Não sei mais o que eu quero de faculdade ou os reais motivos pelas quais quero ir em primeiro lugar. Artes? Jornalismo? Estudos Educacionais? Nada?

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

They say an end can be a start

  Na parede de Cahuita #5 há um papel que agora decreta que domingo é dia de limpeza - e mais três passoais, com nossas resoluções de ano novo, ideia da Valeria - e por isso me coloquei a despertar as dez já que tinha um dia cheio (trabalho de artes, ensaio do musical, ler livro de inglês). Eu varria o chão enquanto Vilde simplesmente sentava na cadeira e escrevia, enquanto lia alto, frases de encorajamento, tudo muito brega para o meu gosto.
  Nessa uma semana completa de aulas, muita coisa já aconteceu. Me frustrei com inglês para depois me alegrar com matemática e história, enquanto TdC continua sendo lindo, E Systems tende a melhorar e JuanPa me frustra em artes por não me deixar trabalhar. Não dormi nenhuma tarde. Fui a reuniões, estudei e me dediquei em todas as aulas, e organizei o CAS de Portugues e Vôlei, em que ambos serei lider. Uma semana com direito a brigas, descobertas de novas pessoas que mal conhecia, desapontamentos pessoais e alheios e conversas no escuro das quais me envergonho. Apenas mais uma semana no UWCCR, eu diria.
  Meu domingo terminou a meia noite, com um chá com Alison enquanto fofocavamos sentadas na mesa de Cahuita, mais uma das minhas descobertas de pessoas. Me despedi e subi ao meu quarto, que Vilde havia "redecorado" com seus encorajamentos e um mapa mundi. Lhe contei do meu dia e quão cansada estava. Ela então apontou um pedaço de papel todo colorido do lado da sua cama, que dizia que os dias de maior satisfação não são os que você fica na cama, e sim os quais em que você termina o dia cansada de tanto fazer. Ela tinha razão. Deitei em minha cama que nunca me pareceu tão minha, nesse quarto que não podia chamar de nada alem de lar.
  Cahuita essa semana ganha mais uma moradora. Alison e Lutfe vão receber Chiara, que vem transferida de Mostar. Uma noticia que nos deixou muito feliz e vem sendo o assunto do colegio. Alison reclama todo dia que tem que arrumar o quarto antes de sua nova colega de quarto chegar e as Cahuitas pensam em uma festa em recepção. Do quarto um ao oito, Cahuita é a minha casa, e espero que seja a de mais alguem tambem.
Tudo isso em uma semana.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

 Deitei-me no chão, depois uma, se sucedendo pela outra. Logo estavamos as três no chão negro daquele lugar que eu tanto amava. Admiravamos o teto, admiravamos o chão. Luz.
 Caminhavamos em passos calmos na chuva fina da terra da garoa, o vento forte no topo do Viaduto do Chá, rindo pelas ruas quebradas até um restaurante de longas escadas.
  Sol depois da chuva pela praça da República, um livro de capa de pano de uma banca de jornal, um café bem natural - todo muito hipster.
  Raísa nos disse adeus na praça Roosevelt, quanto descemos as duas pela avenida, passando por uma feirinha de rua e memórias do passado. Muita gente na vermelha, o fim do tunel na amarela, bem mais tranquila. Me perdi na multidão de São Paulo enquanto Marcela partia com o trem.