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domingo, 31 de agosto de 2014

A little lost

  Acordei com o corpo em suor e inquieto, como milhões de pequenas formigas caminhando lentamente por toda a extensão do meu ser. Acordar parecia um pesadelo. Ao meu lado dormia mais alguem, mas não bem quem eu queria. O braço em volta da minha cintura parecia querer me sufocar. Levantei, lavei meu rosto e sentei no topo da escada de Cahuita. Quatro da manhã. Pensei em todos os lugares aos quais eu típicamente iria, o que me causou certa frustração. Voltei ao #8 e o acordei. Levantou-se em um pulo. Disse que ele deveria ir para o seu próprio quarto. Levantou, me abraçou e buscou um beijo que não aconteceu. Olhou duas vezes antes de fechar a porta. Alcançei meu celular para mandar uma mensagem para um Evan que não podia mais me salvar dos meus próprios problemas.
  Acordei com Molly (USA) e Alice (UK) fazendo piadas sobre mim. Caminhei pela feria tomando meu refrigerante de lavanda e conversando com Karolina (Suécia). Comprei macarrons para o Evening Cafe e comi boa parte só pela memória que me trazem. Voltei ao meu quarto cansada e cai no sono um pouco tempo.
  Acordei com alguem batendo forte na porta. Mandei entrar. Alfredo (Honduras) entrou e me infernizou como sempre, mas dessa vez o problema era eu. O mal humor de acabar de acordar, o sonho que havia sido interrompido e minha já presente frustração me fizeram comportar de maneira um tanto rude. Deixei-o no meu próprio quarto e decidi eu mesma sair. Quando voltei o quarto estava já vazio. Acendi minha vela favorita e tirei a chave da fechadura. Abri de novo a porta e sai correndo.

  Quando voltei ao meu quarto, encontrei Karolina deitada em minha cama. "Espero que você não ache isso estranho" ela disse enquanto eu ria e respondia que nem um pouco. Me perguntou como eu estava. Respondi que adoraria responder que bem, mas na verdade não sabia. Acendi um par mais de velas e conversamos sobre casualidades e coisas um pouco mais sérias.
  Esse dia fragmentado foi como acordar novamente diversas vezes no mesmo dia. Tudo um pouco embaçado e com pouco sentido.

sábado, 23 de agosto de 2014

Pedra por pedra

  Começou ontem durante a fogueira, quando Nikolaj (Alemanha) me puxou para um canto. Me abraçou e secou minhas lágrimas. Conversamos de tudo que haviamos perdido e de tudo que havia a se reconstruir. Pedra por pedra. 
  Continuou hoje quando entrei em meu quarto e encontrei Alfredo (Honduras), que ficou sentado ao meu lado a noite toda e vi de volta ao meu quarto tocando violão. Uma amizade criada em três horas, fácil.
  Noite de abertura do Evening Cafe. Me vi o mais feliz que estive desde que cheguei aqui. Skypeei Evan (Canada) para compartilhar esse momento tão especial. 
  Pouco a pouco, pedra por pedra.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Talking like we know the world

  Há muito a se escrever aqui. Uma falha imensa de escrita, veracidade e personalidade. Uma grande brincadeira toda que isso é. Eu poderia falar do ojos color sol, de tudo que é tan cool y tan lindo. De tudo que já aconteceu, mas disso já não se faz grande proveito. Já passou.
  Deitada na cama de um Sebastian que chorava, depois ligamos o party rocker e ouvimos 'laugh so hard'. Lembrei de todos os meus bons momentos com o party rocker - e uma interrupção.
  Sinto que tudo que anda passando na minha vida vem com uma abrupta interrupção. O problema tambem não é uma falta de fim, mas sim de continuação. No mínimo um pouco de clousure.
 
  Sobre ontem à noite: Montezuma party é com certeza melhor no segundo ano. Sentei-me ao lado de fora após o fim da festa, adimirando a sala comunal, a janela do #7. Passei na frente do #1, sentei-me no sofá azul e acariciei a foto do ano passado na parede. Caminhei de volta até a sala de estudos de Cahuita onde me deitei e me permiti chorar por todos os items acima. Conversei com Evan que me prometeu que se saisse da Columbia Britanica nesse dezembro seria para me ver. Proximidade não tem nada a ver com geografia: me faz feliz que não tenha, mas ao mesmo tempo não faz.

  Esse post não tem começo nem fim, nem pé nem cabeça. E assim fica.

 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

I love you but you're bringing me down

  Lino (Alemanha) entrou em meu quarto sem bater anunciando que iamos comprar um leite que acabamos por não comprar. Trocamos uma conversa rápida quando percebeu mais outra coisa que parecia ser uma tradição entre nós e saiu do quarto me xingando enquanto ria. Me vi completamente sem palavras quando Evan (Canadá) anunciou meu nome depois do de Amy (Canadá) e Lino me presenteou com uma pequena caneca e o abraço que se tornou meu favorito de todo o mundo. Tomei uma eternidade de café numa comemoração enquanto Lino sussurrava que a melhor parte de ter o Evening Cafe é poder tomar o quanto quiser de graça. Um misto de total alegria e profundo abandono tomou conta de mim, junto com o medo de não fazer jus a duas das pessoas que mais amo neste mundo e a essa coisa tão especial. Soquei um Evan com um olhar nostalgico, como de alguem que já dizia à algo. Me senti mais uma vez abandonada e exclamei o quão injusto era ele me dar de presente algo tão maravilhoso mas que me fará pensar dele e sentir sua falta todos os dias. Me respondeu com um 'de nada, isso era parte do plano'.
  De alguma maneira foi algo que acalmou meu coração. Andava tão perdida, tão incerta achando que era uma completa falha, questionando até se esse lugar era para mim, mas percebi que talvez estava olhando para os aspectos errados. No Brasil tinha o melhor inglês entre meus amigos, mas quando meu grupo de amigos começou a se compor por canadenses, americanos, britanicos e irlandeses e tomei English Lang & Lit HL percebi que não era tão boa assim. A Vitória que chegou aqui obviamente não é a mesma que em uma semana parte, e não só cresci como também grew apart de muita coisa. De muita gente. Descobri diversas facetas de mim mesma que podem ser que não me agradem tanto, mas são tão reais. Quando todo mundo gritava 'discurso' e eu não sabia o que dizer, contei como aprendi a apreciar café aqui no colégio e que Lino havia feito meu primeiro café. Agora me vejo em cargo de um café, que me vale muito mais que coisas que eu valorizava tanto no começo. Que talvez até não fossem reais.
  Cada momento aqui parece ser uma certa conclusão, não só falando sobre meu primeiro ano no UWC ou no IB. Conclusões pequenas como a parede do meu quarto que se vê tão fazia, os olhos agridoces e já saudosos de Evan e sentimentos que já não existem. As férias devem estar aí para encerrar essa fase não só escolar como tambem pessoal. Para aprender a viver sem poder gastar meu conversando com Marcela (Brasil) na cama até tarde da noite e que é muito provável que a noite anterior foi a última delas. Cantar uma última música com minha fámilia brasileira e perceber que por mais que esse sentimento me tenha sido tão essencial no meu primeiro ano, não me parece tão ruim não ter-lo no segundo. Que se as pessoas são lares, é possível se mudar como qualquer outra casa. Um último abraço em um momento especial para perceber que as coisas mudam, por mais triste que seja. As caixas de som que Alice me deixou de presente, vindas de sua ex colega de quarto, agora no meu. Que por mais perdida que eu esteja, devo estar forte por que chega ano que vem. Os mil itens que dividi com Valeria por um ano todo e alguns que resolvemos deixar uma pra outra como os meus sapatos da felicidade, que mesmo ela se recusando a aceitar pelo que representam para mim, me parece justo que ela os leve. Porque ela é a minha representação de felicidade e porque tenho esse certo sentimento egoísta de que ela se lembre de mim e sinta minha falta.

Chasing cars

  Oriana (Venezuela) me sacodia por volta das oito e meia da manhã e minha já pouca felicidade em acordar cedo se agravou pela depravação de sono e estilo de vida ridículo que ando levando nos últimos dias. A viagem para San José foi quieta, mas como uma certa mágica tudo começou a melhorar enquanto desciamos as intermináveis escadas rodeadas de flores cor de rosa e Sebastian (Costa Rica) exclamava que Passiflora ali tocava. Cada momento por aqui anda um tanto agridoce, e por melhores que sejam os acontecimentos, há uma certa tristeza que vem com o final do ano. Lino (Alemanha) chacoalhava seus braços dizendo 'tchao' à sua última Feria Verde. Me fez perceber que não é ele que vai preparar meus cafés no Evening Café, justo ele que me ensinou a gostar de café e que nunca mais vou encontrar um macarron da Feria em minha cama com um bilhete amoroso vindo do Evan (Canadá) e eu nunca soube o quanto essas coisas me seriam importantes.

I don't quite know
How to say
How I feel

Those three words
Are said too much
They're not enough


  Caminhamos eu, Alice (Irlanda, namorada da colega de quarto, tão amada quanto a própria colega de quarto e uma das minhas melhores amigas do mundo), Valeria (Espanha/Moldova, colega de quarto, a pessoa mais incrível do universo e uma das minhas melhores amigas do mundo) e Lino (Alemanha, que não tem relação nenhuma com meu quarto mais não deixa de ser sem nenhuma dúvida uma das pessoas mais lindas do mundo e um amigo que eu tive sorte de ter) por San José durante uma hora, na qual Alice tirou um rolo inteiro de fotos, eu comprei para Lino flores, algo que virou uma certa tradição entre nós, essa intrega dele sendo uma das minhas coisas favoritas de todo o mundo.

If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?
(...)
I need your grace
To remind me
To find my own

 Valeria comprou um livro chamado 'Sexo Grupal' que rendeu umas boas piadas. Alice e Valeria caminhavam em nossa frente enquanto Lino e eu nos abraçavamos enquanto andavamos até ônibus no qual caímos no sono um no outro, o vento entrando pela janela e refrescando o calor que fazia por volta do meio dia. O meu desejo era que aquele ônibus nunca parasse e eu pudesse me encolher no conforto de Lino e me sentir segura só de sentir sua cheiro para sempre e que essa última semana nunca acabasse e minhas colegas de quarto não fossem embora e me deixassem com um quarto vazio. 

All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see

O taxi no caminho de volta do show do Calle 13 passava já por Lindora quando 'Chasing Cars' começou a tocar no rádio. Stijn (terceiro ano da Holanda que voltou para a graduação) sugurava a mão de Alice enquanto eu me encolhia nos braços de Evan, parcialmente para esconder meu choro e parcialmente pelo simples prazer de faze-lo, somente aproveitando o vento frio em meu rosto e seu cheiro tão particular. Os quatro cantavam e pela segunda vez no mesmo dia eu só queria dirigir pela cidade eternamente para evitar a efemêriedade desse momento e da vida como um todo.

I don't know where
Confused about how as well
Just know that these things will never change for us at all


Esse post foi escrito com o simples objetivo de que eu não me esqueça desses pequenos momentos.

domingo, 20 de abril de 2014

The upper peninsula

  Já passava das duas da manhã quando bati em sua porta, transtornada, em meu vestido vermelho e nada mas. Caminhamos pelo quadrado e nos vimos de volta em seu quarto. Passamos mais um par de horas acordados, conversando. Quando deitei na cama ao seu lado o céu já estava alguns tons de azul mais claro e os pássaros já cantavam. Me arrumou a cama, com um caneca cheia de água ao meu lado e, de todos os cobertores no mundo, o seu favorito. Cheirava a ele. Dormi umas poucas horas e voltei ao meu quarto. Tinha olhos manhosos quando eu voltava para deixar um bilhete um tanto quanto bold, mas que funcionou. 
  
O sol parecia penetrar em todas as camadas da minha pele quando caminhavamos nas ruas vazias, uma típica tarde de domingo. Nos sentamos no estacionamento em frente à pequena loja com um pote de sorvete e uma boa conversa, o mesmo ao caminhar de volta ao campus. You are a very amusing person. Yeah, you are kind of boring. Nos despedimos aos pés da escada de Montezuma, ele dizendo que deveriamos fazer isso mais vezes. Me perguntei quantas vezes cabiam em um mês e não gostei da resposta. Não verbalizei. 

  E de ontem, isso é o que mais importa.

  

domingo, 23 de março de 2014

For The Unemployed And Underpaid

  Só valhe dizer que em alguns dias acontecem muitas coisas e em outros não. O quão boa foi a noite de ontem se compara ao quão ruim foi a de hoje. O dia, até. 
  As luzes vermelhas me confundem e seus olhares também. 
  Há muito que eu gostaria de dizer aqui mas não posso. 
  Me dá vontade de fugir; para uma praia deserta, uma selva de pedra ou um par de braços.
  Digo e repito: o maior problema nesse lugar não é saber o que se quer, mas sim lidar com isso.
  Me dá vontade de fugir para lugares que nem conheço, o comforto da desatualizada ideia de lar ou um par de braços que não cheiram à nada além de pele. "I have my eyes on you, Bitencourt". As luzes vermelhas que me confundiam e sua cabeça em meu colo.
  Janta, as luzes da cidade e Holanda. Eu quero é fugir, não importa para onde e por quanto tempo.
  Velhas expressões e hipocrisias das quais eu não me salvo; a definição de hipocrisia é mesmo eu não me salvar, afinal. Não penso com minha cabeça, mas tambem não é outra que penso. Não quero perder tempo mas também não vou atrás. A bagunça do meu guarda-roupa tem uma ligação direta com a bagunça da minha cabeça que talvez eu também não queira arrumar.