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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Necesito tiempo

  Mesmo sendo quinta-feira, saímos quase todos - obviamente em direção ao amigos - mas com um motivo especial: TEDxUWCCR havia sido um sucessom com um final surpreendente: brigadeiro, coxinha, pão de queijo e guaraná doados pelo Centro de Cultura Brasileira daqui da Costa Rica.
  Voltei para o colégio sentada com Eleanor (Holanda) e conversavamos sobre o nosso futuro quarto, sonhavamos sobre como seria nossa outra roommate, conversa essa que só me fez sentir pior sobre mim mesma mais tarde. Chiara (Austria) perguntou timidamente se poderia sair conosco enquanto riamos de Brenda (nossa cordenadora de residência) que não queria assinar as  permissões para não estragar as unhas.
  A noite foi como qualquer outra: gasolina, imperial e outras cositas mas, uma pitada de medo de John que andava pairando ezcessivamente sobre os alunos nos últimos tempos. Um shot com Becca (US) foi o suficiente para me deixar desinibida mas não alegre. Avisei Vilde que voltaria para casa mais cedo e sozinha. O vento forte da dry season fazia os cabos de energia baterem forte uns contra os outros na rua vazia e silenciosa, imaginei como seria se um deles se rompesse e eu morresse ali - um pensamento creepy e embreagado. Não ajudou muito quando o encontrei na laundry room. Voltei pro meu quarto sozinha, cansada e mais confusa que nunca. Dormi de luzes acesas e calça jeans, acordando com uma Vilde bêbada me perguntando se eu estava dormindo.
  Voltei a dormir pensando o quão confuso é o fato de que tenho tão grande certeza do que quero no futuro e não consigo lidar com o que quero agora. Não contei à ninguem, mas a pergunta de Molly (US) e a minha demorada resposta e os constantes olhares de Vilde de quem bem me conhece e sabe o que estou fazendo me fazem... Não sei.
  Escrevo ao lado de Sebas (Costa Rica) enquanto deveria estar fazendo minha redação de TdC, com uma faca, uma garrafa de vinho e uma tentativa frustrada de bebe-la. Não é como se eu sempre fizesse o que deveria e o mundo respondesse de acordo.

"Necesito tiempo para amarte, para odiarte, para olvidarte. Necesito tiempo para saber que quiero."

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Há algumas noites atrás, só havia o som das minhas botas

  Descia quatrocentos metros da Igreja sozinha. Sozinha, sola. Um vento gélido que entrava pelos microfuros da minha camiseta as onze da noite. Deitei no campo vazio, barriga virada para o céu. O céu que aqui na Costa Rica me parece uma cúpula baixa, tão proxima da terra. Questões hemisferiais ou sentimentais. O céu em São Paulo me parecia longinquo, distante, à parte. Não existe amor.
  Mas essa visão de cúpula me faz pensar que o mundo é menor, que a distancia (seja emocional ou física) é menor. Me conforta. Porque dentro dessa cúpula está tudo que eu posso um dia almejar e me parece bem mais alcançavel. Não me sinto tão longe e tão ilhada. Até um pouco mais amada.
  Menos quatrocentos metros depois,  estava no calor do meu quarto, o abajur deixava tudo um tanto alaranjado. O quarto alaranjado não é tudo que há, assim como não pode ser que você seja tudo que há. Até porque, como as luzes do natal que já passou, boa parte de você anda queimando e já nao pisca. 1000 estrelas talvez sejam só 999 e isso pode não ser suficiente. Talvez exista até 1001.

"Mãe, eu sei que ainda guarda mil estrelas no colo. Eu, muitas vezes, acredito que mil estrelas são todas as estrelas que existem"





terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Under pressure

  Meu dia começou mal: o despertador com seu barulho irritante gritava as seis e meia da manhã. Rolei na cama por quase uma hora inteira, cólicas. Levantei com o medo de dar as caras em English Lang and Lit HL depois de toda turbulência da não mudança mas não havia como adiar isso. Já na aula me sentia melhor, consegui participar de uma maneira que me satisfez e rendeu um 'great job' vindo de Matt (professor de Inglês, algum lugar no Reino Unido com um sotaque lindo [e compreensivel]). Um comentário um pouco desencaixado de Margot (Holanda) no meio de uma discussão me deixou para baixo - de maneira que me sinto muitas vezes por aqui pelo mesmo motivo idiota que é a língua. Meu bloco livre passou em branco, artes me estressou em um nível que poucas vezes estive - pelo menos não por causa de questões acadêmicas. Um comentário fora de lugar me deixou sem graça e com raiva. Voltei ao meu quarto me sentindo a pessoa mais oprimida da face da Terra.
  Semana de prova, essa e a outra. Algumas delas são pessoais.
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Chuva ácida...

é essa que não cai por motivos sazonais e deixam o campo de futebol em frente a sorveteira incrivelmente amarelo;
é essa que cai dos meus olhos, desfazendo a minha falsa beleza, rios negros em minhas bochechas.

Quando eu deixei a Costa Rica em dezembro, um 'até logo' mais complicado do que parecia ser, chovia todo dia. A terra cheirava à vida e os planos se baseavam em antes e depois da chuva, tudo era verde e novo. 
Voltei em uma estação diferente - dry season- e agora nunca chove. É tudo seco, amarelado, outono sem vida. A grama pinica. O sol é forte e o vento também. De noite faz frio.
Eu, na aula de E Systems, lembrei de chuva ácida. Me fazia pensar no passado, a cor bordô e coisas que eu ainda não descobri. Eu gostava da chuva ácida, mesmo sem acreditar nela.
Quando eu era pequena imagina que a chuva ácida era algo que deixaria todas as pessoas parecendo queijo suiço.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

?

  Aqui vai algo sobre títulos: eles me sufocam. Sendo título desta postagem que me pede o blog ou uma breve descrição da minha semana, a vaguidão de um simples título me traz o desespero de tudo ser meramente o que se diz ser. Enfim:
  Minha semana começou com uma decisão drástica mas ao mesmo tempo muito da sensata - eu iria para English B. Uma tarde pacífica na sala de artes com Alison (Reino Unido) com seu estranho gosto musical, como ela mesma dizia, se seguiu com Reunião de Residência que eu creio ser divertida assim só aqui em Cahuita. Dividimos como em cada sessão nosso 'happy moment' do dia, escolhemos tecidos para as cortinas novas e planejamos uma noite da pizza para quando Chiara, a nova Cahuita chegasse. 
  Na terça feira, apesar de ter a manhã livre, acordei cedo para tomar café da manhã e me encontrar com Brian, o conselheiro universitário daqui do colegio para discutir minha mudança de aulas. Me convenceu então em continuar em English Lang and Lit HL, uma decisão muito influenciada pelo meu choro com Matt (professor de Ingles) as nove da manhã. Frustrada, voltei ao meu quarto onde Alice (Irlanda), Valeria (Espanha) e Vilde (Noruega) me aconselharam e me colocaram para cima. Mais tarde, pedimos pizza e comemos no quarto depois de um dia extremamente enlouquecedor, terminando com Clara (Chile), Alison (Reino Unido), Becca (USA) e eu assistindo Keeping up With The Kardashians e Vilde e eu cantando músicas antigas antes de dormir.
  Na quarta Marcela (Brasil) e eu lideramos nossa primeira sessão do CAS de Portugues que abrimos aqui no colégio. Surpreende o interesse e involvimento de quem estava lá, muito melhor do que a falta de interesse que é sempre esperada de CASs.
  Na quinta feira me sentei por quatro horas com Eleanor na study room de Cahuita, comendo guacamole que eu havia preparado e trabalhando no meu workbook. Acordei na sexta para uma aula de matematica a qual não prestei atenção, TdC que pela primeira vez me interessou fazer um ensaio e historia com uma eterna quantidade de trabalho que eu amo, mas ainda me custa devido ao espanhol. Houve tambem o CAS de Volleyball, aberto por mim e Evan (Canadá), outra maravilhosa surpresa. Por duas horas jogamos no sol enquanto Erwin (Finlandia, que acredito que terá só essa participação em minha vida) tocava músicas.
  Há muito por vim. TEDxUWCCR, provas, ensaios, reuniões, festival de música e (não tão) distante, até um concerto de Calle 13 (um dia depois do fim das minhas ultimas provas como primeiro ano. Como isso aconteceu?). Há tambem muito that I couldn't see coming - eu, gostando de E Systems e sabendo a matéria, e ao mesmo passo Isaac (meu professor, um dos melhores que já tive) indo embora no final do ano. Meu aproximamento com pessoas que estavão tão próximas mas eu não podia ver, uma venda tirada dos meus olhos. 
  Não final das contas, a vida ainda é sobre coisas azuis, comer Pipas espanholas e descobrir a cada dia um novo mundo. Cada dia uma nova surpresa. Me vuelvo a escribir, a lograr meu espanhol e a questionar tudo que eu sei (oh, TdC). Não sei mais o que eu quero de faculdade ou os reais motivos pelas quais quero ir em primeiro lugar. Artes? Jornalismo? Estudos Educacionais? Nada?

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

They say an end can be a start

  Na parede de Cahuita #5 há um papel que agora decreta que domingo é dia de limpeza - e mais três passoais, com nossas resoluções de ano novo, ideia da Valeria - e por isso me coloquei a despertar as dez já que tinha um dia cheio (trabalho de artes, ensaio do musical, ler livro de inglês). Eu varria o chão enquanto Vilde simplesmente sentava na cadeira e escrevia, enquanto lia alto, frases de encorajamento, tudo muito brega para o meu gosto.
  Nessa uma semana completa de aulas, muita coisa já aconteceu. Me frustrei com inglês para depois me alegrar com matemática e história, enquanto TdC continua sendo lindo, E Systems tende a melhorar e JuanPa me frustra em artes por não me deixar trabalhar. Não dormi nenhuma tarde. Fui a reuniões, estudei e me dediquei em todas as aulas, e organizei o CAS de Portugues e Vôlei, em que ambos serei lider. Uma semana com direito a brigas, descobertas de novas pessoas que mal conhecia, desapontamentos pessoais e alheios e conversas no escuro das quais me envergonho. Apenas mais uma semana no UWCCR, eu diria.
  Meu domingo terminou a meia noite, com um chá com Alison enquanto fofocavamos sentadas na mesa de Cahuita, mais uma das minhas descobertas de pessoas. Me despedi e subi ao meu quarto, que Vilde havia "redecorado" com seus encorajamentos e um mapa mundi. Lhe contei do meu dia e quão cansada estava. Ela então apontou um pedaço de papel todo colorido do lado da sua cama, que dizia que os dias de maior satisfação não são os que você fica na cama, e sim os quais em que você termina o dia cansada de tanto fazer. Ela tinha razão. Deitei em minha cama que nunca me pareceu tão minha, nesse quarto que não podia chamar de nada alem de lar.
  Cahuita essa semana ganha mais uma moradora. Alison e Lutfe vão receber Chiara, que vem transferida de Mostar. Uma noticia que nos deixou muito feliz e vem sendo o assunto do colegio. Alison reclama todo dia que tem que arrumar o quarto antes de sua nova colega de quarto chegar e as Cahuitas pensam em uma festa em recepção. Do quarto um ao oito, Cahuita é a minha casa, e espero que seja a de mais alguem tambem.
Tudo isso em uma semana.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

 Deitei-me no chão, depois uma, se sucedendo pela outra. Logo estavamos as três no chão negro daquele lugar que eu tanto amava. Admiravamos o teto, admiravamos o chão. Luz.
 Caminhavamos em passos calmos na chuva fina da terra da garoa, o vento forte no topo do Viaduto do Chá, rindo pelas ruas quebradas até um restaurante de longas escadas.
  Sol depois da chuva pela praça da República, um livro de capa de pano de uma banca de jornal, um café bem natural - todo muito hipster.
  Raísa nos disse adeus na praça Roosevelt, quanto descemos as duas pela avenida, passando por uma feirinha de rua e memórias do passado. Muita gente na vermelha, o fim do tunel na amarela, bem mais tranquila. Me perdi na multidão de São Paulo enquanto Marcela partia com o trem.